momentos

Te conheci, criança,
quando de minha última morte
na distante terra das árvores azuis.
Eras pálida
e de teu olhar – mudo depoimento –
assimilei o significado dos pássaros ausentes
e quis, neste instante
construir palavras que falassem aos teus sentidos.

Eras tão pura.
De tua branca inocência
descobri manhãs virgens
no misterioso ventre do destino.

Eras tão pura para ser humana!

Te conheci, criança,
quando o meu sono mais profundo
suscitava imagens perdidas no tempo;
quando e, sobretudo,
minha mãe morria no último parto.

E tu, criança,
me deste a calma do crepúsculo
para que eu pudesse enfrentar
a metamorfose angustiante
de renascer no espaço,
como uma ave branca,
azul que fosse,
de antigas eras,
calma e silenciosa!...