poema nosso

guardarei para você as últimas palavras
e lhe apontarei as falsas testemunhas.
talvez eu não perceba um gesto,
mas a expressão estará em sua face
e eu serei o réu em todos os momentos.

guardarei para você os primeiros,
os segundos e os últimos raios de luz
e todo e qualquer som que esta manhã emitir.

talvez me ausente no momento exato
e perca a memória e, sobretudo, os sentidos
e me descubra só quando tiver despertado.

guardarei para você meu peito em chamas,
o fogo que cresceu e se propagou na montanha,
o vento que agitou seus cabelos umedecidos,
a chuva que molhou seus pés ensangüentados.

carne e osso, sou feito de ausência.

guardarei para você as minhas mãos vazias
e todo um sonho adormecido.

ainda que tudo tenha passado e seja tarde,
guardarei para você o último sol
e a primeira estrela que minhas mãos tocarem.